Na plataforma deserta não havia sequer um banco limpo o suficiente para colocar o bebê. A estação estava sofrendo há anos o abandono típico das plataformas ferroviárias sendo desativadas e agora Marta pensava se realmente era uma boa ideia deixar o bebê ali. O vento gelado zunia perigosamente no silêncio da noite e o bebê se mexeu no sono. Ela olhou de soslaio para o rostinho adormecido. "Não olhe para ele." ela pensou pela milésima vez. Se olhasse não conseguiria.
Caminhou mais alguns passos e escolheu o banco mais protegido, quase dentro da estação. Quase 5 horas da madrugada e em menos de 30 minutos o trem chegaria, um dos últimos trens a fazer parada na velha estação. Ela ajeitou o menininho no banco frio de pedra. Ele continuava a dormir, confiante como apenas os bebês conseguem ser. Marta pensava em si, em como viera parar na situação em que estava agora.
Fizera planos completos durante os 9 meses de espera mas agora parecia que seu corpo não obedecia... Forçou-se a soltar o embrulho com o bebê e deu uns cinco passos para sair da estação. Ele seria encontrado por algum passageiro desembarcando, ou talvez por alguém que viesse esperar para receber alguém. Claro que ninguém deixaria de acudir um bebezinho na madrugada fria. Deu mais alguns passos. Todo o corpo doía, a cabeça latejava e ela sentia o maior frio de sua vida. O parto solitário estava cobrando seu preço... Caminhou mais um pouco e finalmente saiu da estação deserta. Ouviu ao longe o apito do trem chegando. Acelerou o passo. Voltar para a pensão era impossível, mas haviam outras pensões...
Então aconteceu. Acima do apito do trem ela ouviu. No começo era um chorinho leve, depois tão alto que parecia irromper de dentro dela mesma. Caminhava mais depressa agora do que jamais caminhara em toda a vida. Estava mesmo correndo sem se dar conta. As pessoas passavam por ela, ligeiramente curiosas pela mulher correndo na madrugada que findava. A estação estava agora cheia de pessoas que iam e vinham. Ela se atirou no meio da pequena multidão aglomerada em torno do banco de pedra:
"É meu! Fui comprar leite e de repente o trem chegou. Mas o bebê é meu."
Abraçou o pequenino com tanta força que ele gemeu. Antes que alguém esboçasse um gesto ela desapareceu no meio das pessoas na estação.
Acreditara realmente que conseguiria. Fizera planos: deixaria a criança na estação e sumiria no mundo. Uma mulher jovem sozinha teria muitas chances mais do que uma jovem com um filho. Trabalharia. Mas se enganara.Como poderia? Não, jamais poderia abandonar aquele menino. Jamais faria com ele o que fizeram com ela 15 anos atrás, quando ela própria havia sido um bebê abandonado na estação de trem...
Um conto apenas. Quando estou triste eu escrevo…
Comecei a matar a saudade já chorando....
ResponderExcluirQue linda história, no fim o bem sempre vence!!
Obrigada Elaine!
belíssimo conto! obrigada querida, pela sensibilidade e emoção! bjs Sandra
ResponderExcluirhttp://projetandopessoas.blogspot.com//
Elaine que conto LINDO, chorei e me emocionei MUITO!
ResponderExcluirParabéns, você sabe como tocar no coração das pessoas!
Beijos e ótimo fim de semana para você!!!
frô, li num fôlego só, quase sufoquei, mas nem sei direito se foi pela falta de ar ou pelas lágrimas! ;oD
ResponderExcluirÉ tão fácil julgar as pessoas por atos que a gente só tem a leve noção, não é? Não sou a favor de uma monte de coisas, mas sempre procuro ver o outro lado, pra poder entender a razão de ser desse tipo de coisa.
Mas no final eu percebi, que muitas vezes, é necessário mais coragem pra abandonar, pensando no melhor da criança do que mal cuidar por falta de tantos outros recursos.
Há casos e muitos outros tantos casos...
Ótimo conto e ainda bem que a pequena Marta fez o que seu coração mandou, mesmo que na hora derradeira! ;oD
Xerinhos, frô!
Paty
Essa mulher é mesmo corajosa! Ela voltou e enfrentou a multidão!!!Lindo conto!!! beijo, Ro
ResponderExcluirPena que estava triste, mas...
ResponderExcluirDepois de uma obra prima dessas!?!
Aposto que o humor melhorou muito pois, o meu ficou estasiado com o final feliz desta maravilhosa estória.
Obrigado!!!
Lindo conto. Triste... gostei do final.
ResponderExcluirBeijos!
Forte...
ResponderExcluirbjins
Conto de amolecer nossos corações. =)
ResponderExcluirQuem nos dera se todas as histórias que se assemelham a este conto tivessem um final feliz.
Beijos
Lindo!
ResponderExcluirE vc ainda diz "apenas"... Vc escreve maravilhosamente bem!
ótimo fds!
xero.
Adorei o texto...bravo!
ResponderExcluirAbraços
de luz e paz
Lindo..
ResponderExcluirPoderia bem ser verdadeiro...
História da vida real. Vc mesmo triste produz? (humor mórbdo, desculpe)
Beijos,
É o que a maioria de nós faz. Alguns com mais talento que outros.. rs.. Mas a tristeza me impeliu ao blog hj tb.
ResponderExcluirLindo conto. Triste, mas lindo.
Bjs
Que linda história, Elaine.
ResponderExcluirE com final feliz! Sempre.
Bj
Bom final de semana!
Deborah
www.delicias1001.com.br
Eu sabia que ela não o abandonaria!
ResponderExcluirNão num conto escrito por você.
Sua vida será sempre de finais felizes.
(sei que a história é de sua imaginação, não real. Mas quando somos bons, arranjamos solução pra tudo...)
Beijo!
Minha Flor que comovente historia , eu adorei
ResponderExcluirbjs
Já li a entrevista. Parabéns. Agora vamos torcer para ganharmos o livro. Parabéns a Vaness PELA DEDICAÇÃO.
ResponderExcluircARINHOSAMENTE,
SANDRA
Oi Eliane,
ResponderExcluircheguei aqui hoje e adorei o conto.
Lindo e emocionante.
beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/
Olá adorei teu blog, lindo mesmo. Parabéns. Fique a vontade para fazer uma visitinha ao nosso “Alto-falante” e seja mais um membro. Você é nosso convidado especial. http://poetarenatodouglas.blogspot.com/.
ResponderExcluirUm grande abraço!
Renato Douglas!
Apesar de ter gostado e me emocionado com o conto, me entristeceu saber que vc está triste. Logo você que sempre nos anima, nos dá licões de vida e nos ensina tanto. Se já passou, fico feliz, mas se ainda estiver triste seja qual for a razão, confie que o amanhã será bem melhor. Beijokas e te desejo um ótimo domingo!
ResponderExcluirUm conto apenas????
ResponderExcluirO conto mais lindo que já li em minha vida.
Nada a declarar.
Ai que conto lindo e comovente. Adorei! Não quero que você fique triste, mas se caso ficar, escreva mais contos tá?
ResponderExcluirP.S
Tive uma colega de trabalho que ela foi encontrada bebezinha, dentro do mato, toda cheia de formigas. O pai dela de coração ia passando de cavalo e a viu. Ela é uma pessoa feliz e tem verdadeira adoração por esse pai.
Beijos
Mah
Um artista/escritor triste tras ARTE pura aos seus fas... sempre tive essa angustia dentro de mim... sempre estimei encontrar um bebezinho abandonado... para ama-lo... esse bebezinho tinha a maezinha dele... ainda bem...
ResponderExcluirBjs...